✠ Passio Dómini nostri Jesu
Christi secúndum Matthǽum.
✠ Paixão de Nosso Senhor Jesus
Cristo, segundo S. Mateus.
In illo témpore: Dixit Jesus discípulis suis:
✠ Scitis, quid post bíduum Pascha
fiet, et Fílius hóminis tradétur, ut crucifigátur. C. Tunc
congregáti sunt príncipes sacerdótum et senióres pópuli in átrium
príncipis sacerdótum, qui dicebátur Cáiphas: et consílium fecérunt, ut
Jesum dolo tenérent et occíderent. Dicébant autem: S. Non in die
festo, ne forte tumúltus fíeret in pópulo. C. Cum autem Jesus
esset in Bethánia in domo Simónis leprósi, accéssit ad eum múlier habens
alabástrum unguénti pretiósi, et effúdit super caput ipsíus recumbéntis.
Vidéntes autem discípuli, indignáti sunt, dicéntes: S. Ut quid
perdítio hæc? pótuit enim istud venúmdari multo, et dari paupéribus.
C. Sciens autem Jesus, ait illis:
✠ Quid molésti estis huic mulíeri?
opus enim bonum operáta est in me. Nam semper páuperes habétis vobíscum:
me autem non semper habétis. Mittens enim hæc unguéntum hoc in corpus
meum, ad sepeliéndum me fecit. Amen, dico vobis, ubicúmque prædicátum
fúerit hoc Evangélium in toto mundo, dicétur et, quod hæc fecit, in
memóriam ejus. C. Tunc ábiit unus de duódecim, qui dicebátur
Judas Iscariótes, ad príncipes sacerdótum, et ait illis: S. Quid
vultis mihi dare, et ego vobis eum tradam? C. At illi
constituérunt ei trigínta argénteos. Et exínde quærébat opportunitátem, ut
eum tráderet.
Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos:
✠ «Sabeis que, passados dois dias,
se celebrará a Páscoa e que o Filho do homem será entregue, para O
crucificarem». C. Então, reuniram-se os príncipes dos sacerdotes
e os anciãos na sala do sumo Pontífice, que era chamado Caifás, e
deliberaram prender Jesus, insidiosamente, e matarem-n’O. Mas diziam:
S. «Que isso, porém, não seja no dia da festa, para que o povo
não faça tumulto». C. Então, estando Jesus em Betânia, em casa de
Simão, o leproso, aproximou-se d’Ele uma mulher, trazendo um vaso de
alabastro, cheio de perfumes preciosos, derramando-os sobre a cabeça de
Jesus, que estava assentado à mesa. Vendo isto, indignaram-se os
discípulos, dizendo: S. «Para que serve tal desperdício? Pois
poderia ter-se vendido por elevada quantia este perfume e dar aos pobres o
seu preço». C. Conhecendo Jesus isto, disse-lhes:
✠ «Para que causais pena a esta
mulher? Foi uma boa obra para comigo, que ela praticou; pois pobres sempre
os tereis convosco; porém a mim nem sempre me tereis. Espalhando este
perfume sobre o meu corpo, ungiu-me para Eu ser sepultado. Em verdade vos
digo: onde quer que seja pregado este Evangelho (no mundo inteiro)
contar-se-á também em sua memória a acção que praticou». C. Então
um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com o príncipe dos
sacerdotes e disse-lhe: S. «Quanto quereis dar-me para que eu
vo-l’O entregue?». C. E combinaram dar-lhe trinta moedas de
prata. Desde logo, procurou ele oportunidade para O entregar.
Prima autem die azymórum accessérunt discípuli ad Jesum, dicéntes:
S. Ubi vis parémus tibi comédere pascha? C. At Jesus
dixit: ✠ Ite in civitátem ad
quendam, et dícite ei: Magíster dicit: Tempus meum prope est, apud te
fácio pascha cum discípulis meis. C. Et fecérunt discípuli, sicut
constítuit illis Jesus, et paravérunt pascha. Véspere autem facto,
discumbébat cum duódecim discípulis suis. Et edéntibus illis, dixit:
✠ Amen, dico vobis, quia unus
vestrum me traditúrus est. C. Et contristáti valde, cœpérunt
sínguli dícere: S. Numquid ego sum, Dómine? C. At ipse
respóndens, ait: ✠ Qui intíngit
mecum manum in parópside, hic me tradet. Fílius quidem hóminis vadit,
sicut scriptum est de illo: væ autem hómini illi, per quem Fílius hóminis
tradétur: bonum erat ei, si natus non fuísset homo ille.
C. Respóndens autem Judas, qui trádidit eum, dixit:
S. Numquid ego sum, Rabbi? C. Ait illi:
✠ Tu dixísti.
C. Cenántibus autem eis, accépit Jesus panem, et benedíxit, ac
fregit, dedítque discípulis suis, et ait:
✠ Accípite et comédite: hoc est
corpus meum. C. Et accípiens cálicem, grátias egit: et dedit
illis, dicens: ✠ Bíbite ex hoc
omnes. Hic est enim sanguis meus novi Testaménti, qui pro multis
effundétur in remissiónem peccatórum. Dico autem vobis: non bibam ámodo de
hoc genímine vitis usque in diem illum, cum illud bibam vobíscum novum in
regno Patris mei. C. Et hymno dicto, exiérunt in montem Olivéti.
Tunc dicit illis Jesus: ✠ Omnes
vos scándalum patiémini in me in ista nocte. Scriptum est enim: Percútiam
pastórem, et dispergéntur oves gregis. Postquam autem resurréxero,
præcédam vos in Galilǽam. C. Respóndens autem Petrus, ait illi:
S. Et si omnes scandalizáti fúerint in te, ego numquam
scandalizábor. C. Ait illi Jesus:
✠ Amen, dico tibi, quia in hac
nocte, antequam gallus cantet, ter me negábis. C. Ait illi
Petrus: S. Etiam si oportúerit me mori tecum, non te negábo.
C. Simíliter et omnes discípuli dixérunt.
No primeiro dia dos ázimos, vieram os discípulos ter com Jesus,
dizendo-Lhe: S. «Onde quereis que preparemos o que é necessário
para comer a Páscoa?» C. Jesus disse-lhes:
✠ «Ide à cidade, a casa dum tal, e
dizei-lhe: «O Mestre diz: «Meu tempo está próximo; quero celebrar a Páscoa
com meus discípulos em tua casa». C. Os discípulos fizeram o que
Jesus lhes ordenara e prepararam a Páscoa. Chegada, pois, a tarde,
achava-se Jesus à mesa com seus Doze Discípulos. E, estando eles a comer,
disse-lhes: ✠ «Em verdade vos digo
que um de vós me trairá». C. Então, cheios de profunda tristeza,
começaram, individualmente, a dizer: S. «Serei eu, Senhor?»
C. Ele disse: ✠ «O que me
há-de trair é aquele que mete comigo a mão no prato! Com efeito, o Filho
do homem vai ser traído, segundo o que está escrito a seu respeito, mas
infeliz daquele que O tiver traído! Melhor lhe fora não haver nascido!».
C. Ora Judas, o discípulo que O traiu, disse: S. «Serei
eu, porventura, Senhor?» C. Jesus disse-lhe:
✠ «Tu o disseste!».
C. Enquanto ceavam, tomou Jesus o pão, benzeu-o, partiu-o e deu-o
aos discípulos, dizendo: ✠ «Tomai
e comei: Isto é o meu corpo». C. E, pegando no cálice, deu graças
e entregou-lho, dizendo-lhes:
✠ «Bebei dele vós todos. Pois este
é o meu sangue do Novo Testamento, que será derramado por muitos para
remissão dos pecados. Digo-vos, porém, que não mais tornarei a beber deste
fruto da videira, até ao dia em que o hei-de beber, novamente, convosco no
reino de meu Pai». C. Havendo dito o hino de graças, saíram para
o monte das Oliveiras, Então, disse-lhes Jesus:
✠ «Esta noite serei para vós todos
motivo de escândalo; porque está escrito: «Ferirei o pastor e as ovelhas
do rebanho serão dispersas». Mas, depois de ressuscitar, irei adiante de
vós para a Galileia» C. Porém, respondendo Pedro, disse-Lhe:
S. «Ainda que todos se escandalizem, eu nunca me escandalizarei».
C. E Jesus retorquiu-lhe:
✠ «Em verdade te digo: esta noite,
antes de o galo cantar, negar-me-ás três vezes». C. edro
disse-Lhe: S. «Ainda que tenha de morrer convosco, não Vos
negarei!». C. O mesmo afirmaram todos os discípulos.
Tunc venit Jesus cum illis in villam, quæ dícitur Gethsémani, et dixit
discípulis suis: ✠ Sedéte hic,
donec vadam illuc et orem. C. Et assúmpto Petro et duóbus fíliis
Zebedǽi, cœpit contristári et mæstus esse. Tunc ait illis:
✠ Tristis est ánima mea usque ad
mortem: sustinéte hic, et vigilate mecum. C. Et progréssus
pusíllum, prócidit in fáciem suam, orans et dicens:
✠ Pater mi, si possíbile est,
tránseat a me calix iste: Verúmtamen non sicut ego volo, sed sicut tu.
C. Et venit ad discípulos suos, et invénit eos dormiéntes: et
dicit Petro: ✠ Sic non potuístis
una hora vigiláre mecum? Vigiláte et oráte, ut non intrétis in
tentatiónem. Spíritus quidem promptus est, caro autem infírma.
C. Iterum secúndo ábiit et orávit, dicens:
✠ Pater mi, si non potest hic
calix transíre, nisi bibam illum, fiat volúntas tua. C. Et venit
íterum, et invenit eos dormiéntes: erant enim óculi eórum graváti. Et
relíctis illis, íterum ábiit et orávit tértio, eúndem sermónem dicens.
Tunc venit ad discípulos suos, et dicit illis:
✠ Dormíte jam et requiéscite:
ecce, appropinquávit hora, et Fílius hóminis tradétur in manus peccatórum.
Súrgite, eámus: ecce, appropinquávit, qui me tradet.
Então, foi Jesus com eles para um sítio chamado Getsémani, e disse aos
discípulos: ✠ «Assentai-vos aqui,
enquanto vou, ali, orar». C. E, levando consigo Pedro e os filhos
de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. E disse-lhes:
✠ «Minha alma está triste até à
morte! Ficai aqui e vigiai comigo». C. Depois, avançou um pouco e
prostrou-se com o rosto no chão, orando e dizendo:
✠ «Meu Pai, se é possível, fazei
que este cálice se afaste de mim; contudo faça-se a vossa vontade e não a
minha». C. Em seguida, veio ter com os discípulos, encontrando-os
a dormir. Disse, então, a Pedro:
✠ «Pois não pudestes vigiar uma
hora comigo?! Vigiai e orai para não entrardes em tentação. Na verdade, o
espírito está pronto, porém a carne é fraca». C. De novo se
retirou Jesus e, pela segunda vez orou, dizendo:
✠ «Meu Pai, se este cálice não
pode passar sem que Eu o beba, faça-se a vossa vontade».
C. Depois veio outra vez ter com os discípulos, que achou
dormindo (até tinham os olhos colados de sono!), e, deixando-os, foi pela
terceira vez orar, repetindo as mesmas palavras. Depois, veio ter com os
discípulos e disse-lhes: ✠ «Dormi
agora e repousai: eis que se aproxima a hora em que o Filho do homem será
entregue às mãos dos pecadores. Erguei-vos; vamos! Eis que está próximo o
que me trairá».
C. Adhuc eo loquénte, ecce, Judas, unus de duódecim, venit, et
cum eo turba multa cum gládiis et fústibus, missi a princípibus sacerdótum
et senióribus pópuli. Qui autem trádidit eum, dedit illis signum, dicens:
S. Quemcúmque osculátus fúero, ipse est, tenéte eum.
C. Et conféstim accédens ad Jesum, dixit: S. Ave, Rabbi.
C. Et osculátus est eum. Dixítque illi Jesus:
✠ Amíce, ad quid venísti?
C. Ainda Jesus falava, quando Judas, um dos Doze, chegou e com
ele numerosa turba, armada com espadas e paus, que fora enviada pelos
príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo. Ora, aquele que O traíra,
havia dado este sinal à turba: S. «Aquele que eu beijar, é Esse;
prendei-O». C. Logo que Judas chegou, aproximou-se do Mestre e
disse-Lhe: S. «Salve, ó Mestre». C. E osculou-O. Jesus
disse-lhe: ✠ «Amigo, a que
vieste?».
C. Tunc accessérunt, et manus injecérunt in Jesum et tenuérunt
eum. Et ecce, unus ex his, qui erant cum Jesu, exténdens manum, exémit
gládium suum, et percútiens servum príncipis sacerdótum, amputávit
aurículam ejus. Tunc ait illi Jesus:
✠ Convérte gládium tuum in locum
suum. Omnes enim, qui accéperint gládium, gládio períbunt. An putas, quia
non possum rogáre Patrem meum, et exhibébit mihi modo plus quam duódecim
legiónes Angelórum? Quómodo ergo implebúntur Scripturae, quia sic oportet
fíeri? C. In illa hora dixit Jesus turbis:
✠ Tamquam ad latrónem exístis cum
gládiis et fústibus comprehéndere me: cotídie apud vos sedébam docens in
templo, et non me tenuístis. C. Hoc autem totum factum est, ut
adimpleréntur Scripturae Prophetárum. Tunc discípuli omnes, relícto eo,
fugérunt.
C. Chegaram-se, então, a Ele os outros, lançaram-Lhe as mãos e
prenderam-n’O. Mas, eis que um dos que estavam com Jesus, lançando mão da
espada, desembainhou-a e acutilou um servo do príncipe dos sacerdotes,
cortando-lhe uma orelha. Entretanto Jesus disse-lhe:
✠ «Mete a espada no seu lugar;
pois todos quantos se servem da espada morrerão pela espada. Acaso pensas
que não posso rogar auxílio a meu Pai, que logo me enviaria mais de doze
legiões de Anjos? Mas, como se cumpririam as Escrituras que anunciam que
assim deveria suceder?». C. Ao mesmo tempo, Jesus disse às
turbas: ✠ «Viestes com espadas e
paus para me prender, como se Eu fora um ladrão?! Todos os dias estava
assentado convosco, ensinando no templo, e não me prendestes?!
C. Tudo isto aconteceu assim, para que se cumprissem as
Escrituras dos Profetas. E, naquela hora, todos os discípulos, havendo-O
abandonado, fugiram.
At illi tenéntes Jesum, duxérunt ad Cáipham, príncipem sacerdótum, ubi
scribæ et senióres convénerant. Petrus autem sequebátur eum a longe, usque
in átrium príncipis sacerdótum. Et ingréssus intro, sedébat cum minístris,
ut vidéret finem. Príncipes autem sacerdótum et omne concílium quærébant
falsum testimónium contra Jesum, ut eum morti tráderent: et non
invenérunt, cum multi falsi testes accessíssent. Novíssime autem venérunt
duo falsi testes et dixérunt: S. Hic dixit: Possum destrúere
templum Dei, et post tríduum reædificáre illud. C. Et surgens
princeps sacerdótum, ait illi: S. Nihil respóndes ad ea, quæ isti
advérsum te testificántur? C. Jesus autem tacébat. Et princeps
sacerdótum ait illi: S. Adjúro te per Deum vivum, ut dicas nobis,
si tu es Christus, Fílius Dei. C. Dicit illi Jesus:
✠ Tu dixísti. Verúmtamen dico
vobis, ámodo vidébitis Fílium hóminis sedéntem a dextris virtútis Dei, et
veniéntem in núbibus cœli. C. Tunc princeps sacerdótum scidit
vestiménta sua, dicens: S. Blasphemávit: quid adhuc egémus
téstibus? Ecce, nunc audístis blasphémiam: quid vobis vidétur?
C. At illi respondéntes dixérunt: S. Reus est mortis.
C. Tunc exspuérunt in fáciem ejus, et cólaphis eum cecidérunt,
álii autem palmas in fáciem ejus dedérunt, dicéntes:
S. Prophetíza nobis, Christe, quis est, qui te percússit?
Tendo Jesus sido preso, foi conduzido a casa de Caifás, príncipe dos
sacerdotes, onde estavam reunidos os escribas e os anciãos. Pedro foi
seguindo Jesus ao longe, até ao pátio dos príncipes dos sacerdotes,
havendo entrado e tomado lugar, junto com os criados, para ver o
resultado. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todos os do conselho
buscavam algum falso testemunho contra Jesus para O condenarem à morte;
mas o não achavam, ainda que se tivessem apresentado muitas testemunhas
falsas. Por fim, vieram duas testemunhas falsas, que declararam:
S. «Ele disse: «Posso destruir o templo de Deus e reedificá-lo em
três dias». C. Logo se levantou o príncipe dos sacerdotes e
disse: S. «Nada respondeis ao que estes dizem contra Vós?».
C. Jesus, porém, nada dizia; pelo que o príncipe dos sacerdotes O
instou: S. «Conjuro-Vos, por Deus vivo, que nos digais se sois
Cristo, Filho de Deus!». C. Jesus respondeu:
✠ «Tu o disseste; contudo digo-vos
que haveis de ver daqui a pouco o Filho do homem assentar-se à direita do
poder de Deus, caminhando sobre as nuvens do céu». C. Então o
príncipe dos sacerdotes rasgou os seus vestidos, dizendo:
S. «Blasfemou! Para que são precisas ainda testemunhas? Eis que
acabais de ouvir uma blasfémia! Que vos parece?» C. Eles
responderam: S. «É réu de morte». C. Então, cuspiram-Lhe
no rosto e deram-Lhe bofetadas, dizendo: S. «Adivinhai, ó Cristo,
quem Vos bateu?».
C. Petrus vero sedébat foris in átrio: et accéssit ad eum una
ancílla, dicens: S. Et tu cum Jesu Galilǽo eras. C. At
ille negávit coram ómnibus, dicens: S. Néscio, quid dicis.
C. Exeúnte autem illo jánuam, vidit eum ália ancílla, et ait his,
qui erant ibi: S. Et hic erat cum Jesu Nazaréno. C. Et
íterum negávit cum juraménto: Quia non novi hóminem. Et post pusíllum
accessérunt, qui stabant, et dixérunt Petro: S. Vere et tu ex
illis es: nam et loquéla tua maniféstum te facit. C. Tunc cœpit
detestári et juráre, quia non novísset hóminem. Et contínuo gallus
cantávit. Et recordátus est Petrus verbi Jesu, quod díxerat: Priúsquam
gallus cantet, ter me negábis. Et egréssus foras, flevit amáre.
C. Durante este tempo, continuava Pedro no pátio. Aproximou-se
dele uma criada e disse-lhe: S. «Tu também estavas com Jesus, o
Galileu». C. Pedro negou logo, diante de todos, dizendo:
S. «Não sei o que dizes». C. Saindo, então, ele a porta,
viu-o outra criada, que logo disse para os que estavam ali: S.,
«Este também estava com Jesus Nazareno». C., Pedro negou segunda
vez com juramento, afirmando: «Não conheço tal homem». Pouco depois
chegaram os que ali estavam e disseram a Pedro:
S. «Verdadeiramente tu também és deles, pois, o teu modo de
falar, manifestamente, o dá a conhecer». C. Então, começou a
proferir imprecações e a jurar que não conhecia tal homem. Subitamente,
cantou o galo. E logo Pedro se recordou de que Jesus lhe dissera: «Antes
de o galo cantar, negar-me-ás três vezes». Saiu, pois, para fora e chorou
amargamente!...
Mane autem facto, consílium iniérunt omnes príncipes sacerdótum et
senióres pópuli advérsus Jesum, ut eum morti tráderent. Et vinctum
adduxérunt eum, et tradidérunt Póntio Piláto prǽsidi. Tunc videns Judas,
qui eum trádidit, quod damnátus esset, pæniténtia ductus, réttulit
trigínta argénteos princípibus sacerdótum et senióribus, dicens:
S. Peccávi, tradens sánguinem justum. C. At illi
dixérunt: S. Quid ad nos? Tu vidéris. C. Et projéctis
argénteis in templo, recéssit: et ábiens, láqueo se suspéndit. Príncipes
autem sacerdótum, accéptis argénteis, dixérunt: S. Non licet eos
míttere in córbonam: quia prétium sánguinis est. C. Consílio
autem ínito, emérunt ex illis agrum fíguli, in sepultúram peregrinórum.
Propter hoc vocátus est ager ille Hacéldama, hoc est, ager sánguinis,
usque in hodiérnum diem. Tunc implétum est, quod dictum est per Jeremíam
Prophétam, dicéntem: Et accepérunt trigínta argénteos prétium appretiáti,
quem appretiavérunt a fíliis Israël: et dedérunt eos in agrum fíguli,
sicut constítuit mihi Dóminus.
Havendo rompido a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos se
reuniram em conselho contra Jesus, para O condenarem à morte. E,
levando-O, conduziram-n’O e entregaram-n’O ao Governador Pôncio Pilatos.
Então Judas, tendo atraiçoado Jesus e vendo que este havia sido condenado,
foi logo, cheio de arrependimento, levar as trinta moedas de prata aos
príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: S. «Pequei,
entregando-vos o sangue inocente!». C. Mas eles disseram:
S. «Que nos importa isso? Tu poderias pensar no que fazias!».
C. Ele, então, arrojou as moedas para o templo, afastou-se e foi
enforcar-se! Os príncipes dos sacerdotes recolheram o dinheiro e disseram:
S. «Não é lícito deitá-lo no cofre sagrado, pois é o preço do
sangue». C. E, havendo reunido o conselho a respeito disto,
compraram com esse dinheiro o campo dum oleiro, para servir de cemitério
dos peregrinos; por isso aquele campo é ainda hoje chamado «Hacéldama»,
isto é, campo do sangue. Com isto se cumpriu o que fora anunciado pelo
Profeta Jeremias, quando dissera: «Recolheram as trinta moedas de prata,
preço d’Aquele que foi posto a preço por alguns filhos de Israel,
comprando com elas o campo dum oleiro, como o Senhor me ordenou».
Jesus autem stetit ante prǽsidem, et interrogávit eum præses, dicens:
S. Tu es Rex Judæórum? C. Dicit illi Jesus:
✠ Tu dicis. C. Et cum
accusarétur a princípibus sacerdótum et senióribus, nihil respóndit. Tunc
dicit illi Pilátus: S. Non audis, quanta advérsum te dicunt
testimónia? C. Et non respóndit ei ad ullum verbum, ita ut
mirarétur præses veheménter. Per diem autem sollémnem consuéverat præses
pópulo dimíttere unum vinctum, quem voluíssent. Habébat autem tunc vinctum
insígnem, qui dicebátur Barábbas. Congregátis ergo illis, dixit Pilátus:
S. Quem vultis dimíttam vobis: Barábbam, an Jesum, qui dícitur
Christus? C. Sciébat enim, quod per invídiam tradidíssent eum.
Sedénte autem illo pro tribunáli, misit ad eum uxor ejus, dicens:
S. Nihil tibi et justo illi: multa enim passa sum hódie per visum
propter eum. C. Príncipes autem sacerdótum et senióres
persuasérunt populis, ut péterent Barábbam, Jesum vero pérderent.
Respóndens autem præses, ait illis: S. Quem vultis vobis de
duóbus dimítti? C. At illi dixérunt: S. Barábbam.
C. Dicit illis Pilátus: S. Quid ígitur fáciam de Jesu,
qui dícitur Christus? C. Dicunt omnes: S. Crucifigátur.
C. Ait illis præses: S. Quid enim mali íecit?
C. At illi magis clamábant, dicéntes: S. Crucifigátur.
C. Videns autem Pilátus, quia nihil profíceret, sed magis
tumúltus fíeret: accépta aqua, lavit manus coram pópulo, dicens:
S. Innocens ego sum a sánguine justi hujus: vos vidéritis.
C. Et respóndens univérsus pópulus, dixit: S. Sanguis
ejus super nos et super fílios nostros. C. Tunc dimísit illis
Barábbam: Jesum autem flagellátum trádidit eis, ut crucifigerétur. Tunc
mílites prǽsidis suscipiéntes Jesum in prætórium, congregavérunt ad eum
univérsam cohórtem: et exuéntes eum, chlámydem coccíneam circumdedérunt
ei: et plecténtes corónam de spinis, posuérunt super caput ejus, et
arúndinem in déxtera ejus. Et genu flexo ante eum, illudébant ei,
dicéntes: S. Ave, Rex Judæórum. C. Et exspuéntes in eum,
accepérunt arúndinem, et percutiébant caput ejus. Et postquam illusérunt
ei, exuérunt eum chlámyde et induérunt eum vestiméntis ejus, et duxérunt
eum, ut crucifígerent.
Ora Jesus compareceu perante o Governador, que O interrogou:
S. «Sois o Rei dos Judeus?». C. Respondeu-lhe Jesus: «Tu
o dizes». C. E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e
pelos anciãos, nada respondeu. Disse-Lhe, então, Pilatos: S. «Não
ouvis as coisas de que Vos acusam?». C. Mas Ele não respondeu, de
modo que o Governador admirava-se deveras. No dia da festa, o Governador
tinha o costume de soltar o preso que o povo quisesse. Havia, então, um
preso notável, chamado Barrabás. Estando todos juntos, disse Pilatos:
S. «Qual quereis que solte? Barrabás ou Jesus, por apelido
Cristo?». C. Pois sabia que por inveja é que lh’O haviam
entregado. Quando Pilatos estava assentado no seu tribunal, mandou-lhe
dizer sua mulher: S. «Não te ocupes desse justo, pois tive, hoje,
sonhos, nos quais padeci muito por sua causa». C., Mas os
príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo que pedisse que
Barrabás fosse solto e mandasse matar Jesus. Falando, pois, o Governador,
disse-lhes: S. «Qual dos dois quereis que solte?».
C. Responderam: S. «Barrabás». C. Pilatos
observou: S., «Que hei-de fazer, então, de Jesus, que se chama
Cristo?» C. Responderam todos: S., «Seja crucificado!».
C. O Governador disse-lhes: S. «Pois que mal fez Ele?».
C. Porém, cada vez mais alto, bradavam: S. «Seja
crucificado!». C. Vendo Pilatos que nada conseguia, mas que o
tumulto crescia, mandou vir água e lavou as mãos diante do povo, dizendo:
S. «Estou inocente do sangue deste justo; isso é lá convosco».
C. Todo o povo respondeu: S. «Que o sangue caia sobre
nós e nossos filhos!». C. Então Pilatos soltou Barrabás, e,
havendo mandado açoitar Jesus, entregou-lh’O para ser crucificado. Os
soldados do governador conduziram Jesus ao Pretório, formaram em torno
d’Ele toda a corte, despojaram-n’O dos vestidos e cobriram-n’O com um
manto de púrpura. Depois, teceram uma coroa de espinhos, puseram-Lha na
cabeça, meteram-Lhe na mão direita uma cana, como se fora um ceptro, e
ajoelharam diante d’Ele, escarnecendo-O e dizendo: S. «Salve, ó
Rei dos judeus!». C. E, cuspindo-Lhe nas faces, tiraram-Lhe a
cana e bateram-Lhe com ela na cabeça. Depois, ainda O escarneceram,
tiraram-Lhe o manto, vestiram-n’O, novamente, com seus vestidos e
levaram-n’O para ser crucificado.
Exeúntes autem, invenérunt hóminem Cyrenǽum, nómine Simónem: hunc
angariavérunt, ut tólleret crucem ejus. Et venérunt in locum, qui dícitur
Gólgotha, quod est Calváriæ locus. Et dedérunt ei vinum bíbere cum felle
mixtum. Et cum gustásset, nóluit bibere. Postquam autem crucifixérunt eum,
divisérunt vestiménta ejus, sortem mitténtes: ut implerétur, quod dictum
est per Prophétam dicentem: Divisérunt sibi vestiménta mea, et super
vestem meam misérunt sortem. Et sedéntes, servábant eum. Et imposuérunt
super caput ejus causam ipsíus scriptam: Hic est Jesus, Rex Judæórum. Tunc
crucifíxi sunt cum eo duo latrónes: unus a dextris et unus a sinístris.
Prætereúntes autem blasphemábant eum, movéntes cápita sua et dicéntes:
S. Vah, qui déstruis templum Dei et in tríduo illud reædíficas:
salva temetípsum. Si Fílius Dei es, descénde de cruce.
C. Simíliter et príncipes sacerdótum illudéntes cum scribis et
senióribus, dicébant: S. Alios salvos fecit, seípsum non potest
salvum fácere: si Rex Israël est, descéndat nunc de cruce, et crédimus ei:
confídit in Deo: líberet nunc, si vult eum: dixit enim: Quia Fílius Dei
sum. C. Idípsum autem et latrónes, qui crucifíxi erant cum eo,
improperábant ei. A sexta autem hora ténebræ factæ sunt super univérsam
terram usque ad horam nonam. Et circa horam nonam clamávit Jesus voce
magna, dicens: ✠ Eli, Eli, lamma
sabactháni? C. Hoc est:
✠ Deus meus, Deus meus, ut quid
dereliquísti me? C. Quidam autem illic stantes et audiéntes
dicébant: S. Elíam vocat iste. C. Et contínuo currens
unus ex eis, accéptam spóngiam implévit acéto et impósuit arúndini, et
dabat ei bíbere. Céteri vero dicébant: S. Sine, videámus, an
véniat Elías líberans eum. C. Jesus autem íterum clamans voce
magna, emísit spíritum.
Ao sair da cidade encontraram um homem de Cirene, chamado Simão. Logo o
obrigaram a levar a cruz de Jesus. E vieram para um lugar chamado Gólgota,
que quer dizer: lugar do Calvário. Deram-Lhe vinho misturado com fel.
Porém Ele, havendo-o provado, o não quis beber. Depois de O crucificarem,
lançaram sortes sobre os seus vestidos (para se cumprir o que fora
anunciado pelo Profeta): «Repartiram entre si os meus vestidos e lançaram
sortes à minha túnica». Depois assentaram-se e assim O guardaram. Puseram,
também, por cima da sua cabeça uma inscrição, indicando a causa da sua
morte, assim escrita: «Este é Jesus, Rei dos Judeus». Simultaneamente,
foram crucificados dois ladrões: um à direita e o outro à esquerda. E os
que passavam por ali blasfemavam, movendo a cabeça e dizendo:
S. «Ah! dissestes que destruiríeis o templo de Deus e o
reedificaríeis em três dias? Salvai-Vos, pois, agora! Se sois o Filho de
Deus, descei da cruz». C. Ao mesmo tempo os sacerdotes com os
escribas e anciãos, escarneciam d’Ele, dizendo: S. «Salvou os
outros e não pode salvar-se a si próprio? Se Ele é o Rei de Israel, que
desça da cruz, e acreditaremos n’Ele. Confiou em Deus?! Pois, se Deus O
ama, que O livre, porquanto Ele disse: «Sou o Filho de Deus».
C. Os ladrões, que estavam crucificados com Ele, insultavam-n’O
do mesmo modo. Desde a hora sexta até à nona, as trevas estenderam-se por
toda a terra. Cerca da hora nona, exclamou Jesus em voz alta, dizendo:
✠ «Elí, Elí, lamma sabatáni?».
C. Isto é: ✠ «Meu Deus,
meu Deus, porque me abandonastes?». C. Alguns, porém, dos que ali
estavam, ouvindo isto, diziam: S. «Chama por Elias».
C. Logo, correndo um deles, foi buscar uma esponja, ensopou-a em
vinagre, pô-la sobre uma cana e apresentou-Lha para beber. Os outros
diziam: S. «Deixa; vejamos se Elias vem livrá-l’O».
C. Porém Jesus, soltando de novo um grande brado, expirou!
(Hic genuflectitur, et pausatur aliquántulum)
(Todos devem ajoelhar e recolher-se em meditação durante algum
tempo.)
Et ecce, velum templi scissum est in duas partes a summo usque deórsum: et
terra mota est, et petræ scissæ sunt, et monuménta apérta sunt: et multa
córpora sanctórum, qui dormíerant, surrexérunt. Et exeúntes de monuméntis
post resurrectiónem ejus, venérunt in sanctam civitátem, et apparuérunt
multis. Centúrio autem et qui cum eo erant, custodiéntes Jesum, viso
terræmótu et his, quæ fiébant, timuérunt valde, dicéntes: S. Vere
Fílius Dei erat iste. C. Erant autem ibi mulíeres multæ a longe,
quæ secútæ erant Jesum a Galilǽa, ministrántes ei: inter quas erat María
Magdaléne, et María Jacóbi, et Joseph mater, et mater filiórum Zebedǽi.
Imediatamente, o véu do santuário se rasgou em duas partes, de alto a
baixo; a terra tremeu nos seus alicerces; as pedras partiram-se; os
sepulcros abriram-se e muitos corpos dos santos, que haviam morrido,
ressuscitaram; e, saindo dos seus sepulcros, depois da ressurreição de
Jesus, vieram à cidade santa e apareceram a muitos. O centurião e os que
com ele estavam para guardar Jesus, vendo o tremor de terra e tudo quanto
se passava, tiveram medo e diziam: S. «Realmente, Este era o
Filho de Deus!». C. Achavam-se também, ali, a distância, algumas
mulheres, que haviam seguido Jesus desde a Galileia para O servirem, em
cujo número se contavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a
mãe dos filhos de Zebedeu.
Cum autem sero factum esset, venit quidam homo dives ab Arimathǽa, nómine
Joseph, qui et ipse discípulus erat Jesu. Hic accéssit ad Pilátum, et
pétiit corpus Jesu. Tunc Pilátus jussit reddi corpus. Et accépto córpore,
Joseph invólvit illud in síndone munda. Et pósuit illud in monuménto suo
novo, quod excíderat in petra. Et advólvit saxum magnum ad óstium
monuménti, et ábiit. Erat autem ibi María Magdaléne et áltera María,
sedéntes contra sepúlcrum.
Quando já era tarde, chegou um homem rico de Arimateia, chamado José, que
também era discípulo de Jesus. Este homem foi ter com Pilatos e pediu-lhe
o corpo de Jesus. Pilatos mandou que lhe fosse entregue o cadáver; e,
levando-O José, amortalhou-O em um lençol limpo e depositou-O em um
sepulcro novo, que havia mandado abrir na rocha. Depois, colocou uma pedra
pesada à entrada do sepulcro e se retirou. Estavam, ali, Maria Madalena e
a outra Maria, assentadas, defronte do sepulcro.